Ninguém presta

Lorde quase sempre teve respeito pelos crentes. Até por ter a mãe crente e um primo pastor evangélico. Só não entendia como eles podiam ser tão radicais. Olhavam para ele com expressão de dó. Com uma arrogância insuportável.Como se a leitura metódica da bíblia cristã fosse credencial para falar em nome de deus. E afinal, quem era esse tal deus. Os caras diziam saber tudo o que era deus, como ele se comportava, o que ele achava das coisas. Ele tinha momentos de ódio dos crentes. Pois eles não davam chance. Não abriam as cabeças. Julgavam a tudo e a todos ou se afundavam na hipocrisia, saindo com frases do tipo: "Eu não quero julgar tal pessoa, mas acho que ela...". Aí fazem o julgamento moral do cara. Ou da mina.

Os crentes liam a bíblia, interpretavam as histórias que eram contadas ali e desejavam que fossem aceitas pelas pessoas, pelos não-convertidos, pelos pecadores, pelos perdidos, pelos drogados, pelos prostituídos, pelos sujos, pelos feios, pelos sem honra, pelos errados. Eles é que estavam certos. Tudo estava sendo feito em nome de deus. E a fé era capaz de tudo. Se você não conseguisse fazer alguma é porque não teve fé suficiente. Se é uma criança pobre que já nasceu com  problemas criados durante a gravidez talvez de uma mãe que tinha vários problemas também, filha de outros pobres que não puderam dar a atenção devida durante a infância. É claro que se esta criança chegasse aos trinta anos, também com problemas, nunca conseguiria comprar um carro. Nunca conseguiu terminar a faculdade. Nunca conseguiu emprego de executivo, nunca foi empresário, nem nunca foi o comedor do bairro, nunca teve casa própria, nunca foi o tal, enfim, o problema na explicação de muitos crentes é que este cara não teve fé suficiente.
 
Ele tem que ler a bíblia, ele tem que ir a igreja, aceitar as suas condições e agradecer a deus por estar vivo e saber que tinha tudo que merecia. O problema era a falta de fé. Aliás, falta de rezar. Não, não. Fale orar. Crente não reza. Crente ora. E crente que é crente mesmo tem tudo. Assim que se fala entre os crentes.

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