Uma parada


_O cara falou que era pra parar mais perto do bar.

_Como parar mais perto?

_É ele me reconheceu , perguntou se eu era amigo do altão.

_Ah, então ele lembrou do Roberto.

_É, hoje ele vendeu e não fez gracinha.

_ Porque outro dia ele tinha e não quis vender pra você, né?

_ É então, hoje ele falou até pra eu parar mais perto do bar.

_ Mas quem falou pra ele que eu quero parar mais perto do bar?

_Pois é, o cara tá achando que eu quero ser amigo dele.

_ Tô fora.

_ Eu também. Eu vim aqui pra comprar droga, não pra ser amigo de traficante. Tô com cara de puxa saco de traficante, é mole?

_ Mas não é por ele ser traficante que eu não quero paro com ele.

_Acho que esse cara que é mala mesmo.

_ É ... Puta mala. Traficante tem que vender ou não vender.

_Não tem que ficar fazendo gracinha. Essas paradas de passa daqui quinze minutinhos.

_ Por isso que o povo denuncia. O povo vai na boca para buscar drogas e os traficantes ficam com monte de história boba, ai quem vai lá e não consegue pegar acho que é quem acaba denunciadndo, não acha?

_ Nem tanto vai. Aliás, esqueci de falar ...

_ Esquecer de falar?

_ Que não é pra parar o carro onde a gente parou que mora uma Guarda Municipal ali. Acha? O guarda mora do lado biqueira. Deve ser patrão, né?

_ Nossa! Mas então tem um Guarda Municipal morando ali?

_ É. Por isso que ele falou pra gente parar mais perto do bar.

_Um dia a gente pára.

_Pára de usar droga ou para do lado do traficante?

Os dois seguiram no carro até a cidade vizinha. Tinham cocaína e maconha no carro. Ela foi contando ao rapaz sobre o seu trabalho de modelo. Sobre as cabecinhas das colegas e dos valores que as pessoas de seu meio profissional atribuíam ao mundo. Da tendência, por parte de pai, para que ela tivesse o nível de vida que tinha. Da independência de viver sozinha num  grande centro urbano e os desafios de levar uma vida regrada para não ficar gorda, nem cheia de rugas, nem de olheiras. Disse que tinha que de alimentar-se mais de de frutas, legumes, verduras. E carne, só comeria carne de peixe. Lorde, passando ao lado do córrego que cortava o Parque Ecológico, ficou pensado nas famílias que passaram o dia pescando e na qualidade do alimento que levavam para a casa. Tirou o isqueiro do bolso e pôs fogo no baseado.

Hora de parar. Hora de parar de usar droga ou de parar mais perto das biqueiras. Parar de usar que tipo de droga. Como será que é isso. Parar de usar cocaína e parar de estar entorpecido por uma programação ruim na televisão. Parar de fumar pedra ou parar de fazer sexo de qualquer jeito, sem proteção. Parar de fumar pedra ou parar de usar a bíblia como escudo até contra o amor. Parar de fumar em mega ou parar de viver o mundo das novelas e dos comerciais de televisão. Parar de fumar um mesclado ou p-arar de comer demais para saciar o nervosismo. Parar de fumar maconha que fa relaxar pra dormir, que abre o apetite do doente, que diverte o dependente químico ou parar de fumar cigarro que não dá barato. Parar de fumar cigarro que relaxa e gera emprego, ou parar de usar cocaína para fugir da realidade. Parar de cheirar pra ficar sem sono e falar pra caraio ou parar de injetar usando agulhas dos outros. Parar de injetar ou usar agulhar e seringas limpas que ninguém ainda usou, depois jogar fora pra ninguém usar mais. Parar de injetar ou parar de roubar dinheiro público. Parar de beber, fumar, cheirar, injetar, trepar ou parar de ser hipócrita. Parar de ser hipócrita ou parar de vacilar.

A escola da rua talvez seja a única onde dá pra fazer um  processo seletivo, de quem pode ou não pode. Quem for reprovado, pode ficar definitivamente impedido de realizar qualquer tarefa. E a dúvida, dentro da cabeça. Martelando o cérebro, correndo o corpo em cada partícula do sangue que caminha pelos vasos. A dúvida caminha por ali, por dentro das veias, olhando as paredes reparando em cada pedacinho de tranqueira enroscada, pelos labirintos de artérias e cada gordura crescida no lugar errado, cada maionese a mais no carrinho de cachorro quente da esquina, resto de cocaína, de ácido lisérgico, tudo alojado por ali no meio de tanta adrenalina, de tantos hormônios, de tantos desejos sem cura de sentimentos importante, de proteínas raras, de combinações químicas homeopáticas, de doses exatas e de quantidades exageradas, de abusos, de uso de remédios estranhos, que corpos cavernosos, de micro-organismos e vida, que não sabe até onde vai chegar. Talvez só até a esquina. Resolveram parar mais perto da biqueira, descer, e, novamente, comprar mais uma porção de cocaína.

_Leva um galo, véi! (Um galo neste caso não é um galináceo). De ... de ... (O cara enrolava e não desembuchava) Eu quero uma ...(Mas não que seja ruim a ideia de um risoto) ... Não, eu acho que eu quero duas (Tá certo que bandido que é bandido quer mesmo é churrasco, só a carne, só. Só a carne já era a festa para quem não teve tanta proteína na infância) ... de cinquenta mas acho que eu...

_Cê tem, sim!

_Quem te disse que eu tenho?

_ Eu sei que você tem vai, porra!. O cara tá esperando. Isso aqui é uma biqueira, não dá pra gente ficar a noite inteira por aqui.

_ Para de gritar comigo. Pega essa bosta de dinheiro.

_Calma ae galera, eu sei que vocês estão meio acelerados, mas eu não tenho nada com isso. Aliás, a dama aceita uma flor?

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