Muitas vezes o refúgio do bandido era a igreja dos crentes. Melhor ainda numa igreja pentecostal, em meio aos gritos, louvores e todo aquele ritual, desencadeado por aquelas pessoas, pobres, magras, cansadas, umas tristes, outras esperançosas, umas com roupas bonitas, outras sujas, outras com pouca roupa, até. No meio delas, o bandido era um como elas.
O bandido é um como elas. Como as pessoas fracas, chatas, mentirosas, brancas, ricas, sorridentes ou fortes, simpáticas, sinceras, negras, pobres, chorando. A ordem não importa, neste caso. Mas colocaram muito dinheiro na bacia de plástico que o obreiro passava durante o culto.
Só no final, quando Marquinhos mostrou sua nova ferramenta e pediu, sorrindo, o dinheiro da bacia. Abasteceram a camionete, pegaram o frentista, e deixaram o pastor perto da casa dele. No dia seguinte não teria culto. Nem tráfico. Todos iam para a praia. Menos o pastor, que, para para fazer o culto da terça-feira, deixou que os meninos da rua levassem o dinheiro para o caixa do posto. Religiosamente cúmplices.
A igreja continua sendo o mesmo lugar seguro de sempre. E o pastor pode continuar ali, na rua da escola, com sua igreja levando a palavra de deus. O tráfico convive com tudo. As igrejas convivem com tudo. Tudo convive com o tráfico. Tudo convive com as igrejas. Tudo convive com o incômodo. Por quanto tempo?
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