Por querer

O safado usava droga porque queria. Começou bem depois da média da galera com que ele convivia. Passava o dia todo fumando maconha. Não dava mais atenção a nada enquanto dedicava-se à prática de fumar um bom baseado. Gostava e nunca se importou com isso. Quando era adolescente, julgava, tinha levado a vida muito a sério. Passou a maior parte do tempo trabalhando, estudando ou assistindo televisão, graças à falta de opções de cultura. Quando chegou à vida quase adulta - por volta dos 18, garantiu boa profissão procurou deixar alguma coisa guardada. Mas não conseguiu guardar nada. Em compensação ficou com um acúmulo de conhecimentos que muita daquela gente não tinha. Conseguiu enfrentar o desprezo de muita gente. E o preconceito, principalmente. Mas não importou-se. Poderia ser apenas um dos milhares de jovens de classe média, que têm acesso a alguns bens de consumo, inclusive drogas. Empapuçado de drogas, passou observar como funcionava aquela zona cinzenta entre o crime organizado e a vida oficial, apresentada no horário comercial. Filosofava sobre a relação de um mundo com outro. Tentava ver aquilo como um mundo só.

Eles têm poder nas mãos, nos pés, talvez em todos os lugares. Cegava um carro. Piscava os faróis. O primeiro antena respondia com uma lanterna. O carro vinha devagar, o antena dava sinal para entrar à direita. Parava junto aos três vapores posicionados na esquina da pracinha. Perguntavam o que os playboys queriam.

_Negócio é o seguinte, a gente quer cinco papel de vinte.

_Aê, abaixo o farol e dá um pião, mas não volta aqui não. A bica é ali em baixo mas você pode deixar o dinheiro aqui.

_Cê tá loco que eu vou deixar meu dinheiro co´cê?

_Ae mano, aqui o papo é firmeza e num tem trairagem não.

_Então dá meu dinheiro de volta que eu pelo lá em baixo com ele.

_Meu, pára de brigar com o cara que você vai levar um tiro na testa - gritava a menina no banco de trás.

_Ai boy, se não quiser assim, vai pegando seu dinheiro de volta e vai buscar sua farinha em outra briqueira, certo?

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