Finalmente o publicitário ligou para o motorista, ainda que contra a sua vontade. Conheceu Piracema uns cinco anos antes. O atual motorista trafegava de moto quando foi colhido pela caminhonete de Márcio, que realizava uma conversão proibida. Quebrou a perna direita do garoto que o ameaçou, entre muitas outras coisas, de morte. Convencido que não dirigia bem e mais convencido ainda que não gostaria de ter problemas na imprensa, resolveu contratar o moleque.
Traficante, muambeiro, ladrão de, 157, passador de cheques sem fundos, pai de duas crianças, pai de uma terceira que ainda estava por nascer, ex-crente, ex-guarda municipal, ex-mecânico, ex-chaveiro, ex-garoto de programa. Era a ficha do rapaz o que colocava dentro de casa. E muito ainda acham que um empresário de sucesso é um cara conservador, religioso, honesto, e careta. João Carlos pelo menos estava na média. Comia pelo menos uma mulher diferente por semana. Nem que fosse para pagar droga a uma viviada que ele traçaria na caçamba da caminhonete mesmo. Tinha uma mulher linda e carinhosa e um motorista íntimo, que trabalhava mais para levar Sandra onde ela queria do que o próprio patrão.
Mas o publicitário considerava Piracema o seu mais leal escudeiro. Pau para toda a obra. Sempre pronto para o combate.
_Vamos descer para o Litoral Norte hoje.
_Aí chefia, não dá pra ser à noite não?
_Eu preciso ir cedo.
_Ah, então não vai dar.
_Então à noite, que horas?
_Depois das dez da noite, pode ser.
_Vou eu e a Sandra, a gente vai à casa de um amigo em Ubatuba.
_Beleza. Estou levando uns amigos meus, também, belê?
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